Os meningiomas são tumores primários extra-axiais do sistema nervoso central, originados das células meningoteliais da aracnoide (também chamadas de células aracnoideias). Representam aproximadamente 30% dos tumores intracranianos primários, sendo a neoplasia intracraniana mais prevalente em adultos.
Epidemiologia
- Incidência anual estimada de 8 a 10 casos por 100.000 habitantes.
- Predominam em pacientes do sexo feminino (relação F:M de até 3:1), especialmente entre a quinta e sétima décadas de vida.
- A presença de receptores hormonais (progesterona, estrogênio e androgênio) em parte dos meningiomas sugere possível influência hormonal.
- Estão associados à neurofibromatose tipo 2 (NF2), sobretudo quando múltiplos.
Etiologia e Genética
- A mutação do gene NF2, localizado no cromossomo 22q12, é a alteração genética mais comum, especialmente nos meningiomas esporádicos e nos associados à NF2.
- Outras alterações genéticas incluem mutações em TRAF7, KLF4, AKT1, SMO e PIK3CA, correlacionadas a localizações específicas e comportamentos distintos.
Localização
Os meningiomas podem ocorrer em qualquer local onde haja meninges, mas suas localizações mais comuns são:
- Convexidade cerebral
- Região parasagital (adjacente ao seio sagital superior)
- Foice do cérebro
- Base do crânio (especialmente asa esfenoidal, região olfatória, clivus)
- Região tentorial
- Canal vertebral (meningiomas espinhais)
Classificação Histológica (OMS)
A Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica os meningiomas em três graus histológicos com base em critérios morfológicos e índice mitótico:
- Grau I (benigno) – 80–90% dos casos. Subtipos: meningotelial, fibroso, transicional, entre outros.
- Grau II (atípico) – 5–15%. Caracteriza-se por maior atividade mitótica (>4 mitoses/10 CGA), necrose focal e padrão de crescimento mais agressivo.
- Grau III (anaplásico/maligno) – <5%. Apresenta atividade mitótica acentuada (>20 mitoses/10 CGA), necrose extensa, atipias marcantes e comportamento invasivo.
Diagnóstico por Imagem
- Ressonância Magnética (RM) com contraste é o padrão-ouro.
- Lesão extra-axial, iso a hipointensa em T1, iso a hiperintensa em T2.
- Realce homogêneo com gadolínio.
- Sinal da “cauda dural” é sugestivo, mas não patognomônico.
- Tomografia Computadorizada (TC) pode evidenciar calcificações ou hiperostose óssea, frequente em meningiomas da base do crânio.
Tratamento
A conduta é individualizada com base em fatores como grau histológico, tamanho tumoral, sintomas, idade e comorbidades do paciente.
1. Cirurgia
- É o tratamento de escolha para tumores sintomáticos ou em crescimento documentado.
- A classificação de Simpson (graus I a V) avalia a extensão da ressecção e risco de recidiva:
- Grau I: ressecção completa com remoção da dura e osso envolvido.
- Grau II-III: ressecção completa, mas com preservação de parte da dura ou coagulação.
- Grau IV-V: ressecções parciais ou apenas biópsia.
2. Radioterapia
- Adjuvante em tumores grau II/III ou ressecção incompleta.
- Pode ser definitiva em casos irressecáveis.
- Radiocirurgia estereotáxica (Gamma Knife, CyberKnife) é opção em tumores pequenos (<3 cm) bem localizados.
3. Acompanhamento clínico-radiológico
- Indicado em tumores pequenos, assintomáticos e sem crescimento documentado.
- Monitoramento com RM periódica, geralmente anual nos primeiros anos.
Prognóstico
- Tumores grau I têm excelente prognóstico com ressecção total.
- Grau II apresentam taxas de recorrência de até 40% em 10 anos.
- Grau III têm prognóstico reservado, com sobrevida média entre 2 a 4 anos.