Dor lombar crônica é definida como a dor persistente na região lombar (parte inferior da coluna vertebral) com duração superior a 12 semanas. É uma das principais causas de incapacidade funcional no mundo e um motivo frequente de procura por atendimento médico, impactando significativamente a qualidade de vida e a produtividade dos pacientes.
Fisiopatologia e causas
A dor lombar crônica pode ser de origem:
- Mecânica (mais comum): relacionada a alterações estruturais e funcionais da coluna vertebral e tecidos adjacentes;
- Inflamatória: como nas espondiloartrites;
- Neuropática: devido à compressão ou lesão de raízes nervosas.
As principais causas incluem:
- Degeneração discal (doença degenerativa do disco): desidratação e colapso dos discos intervertebrais, com ou sem formação de osteófitos (bico de papagaio);
- Hérnia de disco lombar: protrusão ou extrusão do disco que pode comprimir raízes nervosas;
- Espondilolistese: escorregamento de uma vértebra sobre a outra;
- Estenose de canal lombar: estreitamento do canal vertebral, comprimindo estruturas neurológicas;
- Artrose facetária: degeneração das articulações interfacetárias;
- Síndrome miofascial: dor muscular crônica com pontos-gatilho;
- Fraqueza da musculatura paravertebral e abdominal (core);
- Fatores posturais e sobrecarga funcional crônica;
- Doenças inflamatórias (espondilite anquilosante), tumores, fraturas por osteoporose ou causas viscerais (rins, ginecológicas, intestinais).
Diagnóstico
O diagnóstico baseia-se em anamnese detalhada, exame físico e, quando necessário, exames complementares, como:
- Ressonância magnética (RM): padrão ouro para avaliar disco intervertebral, canal vertebral e estruturas neurológicas;
- Radiografias com carga: úteis para identificar espondilolistese e alterações degenerativas;
- Tomografia computadorizada: para avaliação óssea detalhada;
- Eletroneuromiografia (ENMG): nos casos de dor com irradiação e suspeita de compressão nervosa;
- Exames laboratoriais, se houver suspeita de processos inflamatórios ou infecciosos.
Nem todos os exames são necessários. O tipo de dor e a conversa médica avaliarão a necessidade.
Tratamento
- Conservador (primeira linha) – e mesmo que o caso seja cirúrgico, deve-se manter:
- Reeducação postural e ergonomia;
- Fisioterapia com ênfase em fortalecimento do core, estabilização segmentar e alongamento;
- Exercícios físicos regulares e supervisionados (ex: musculação, pilates, hidroterapia);
- Terapias manuais, como liberação miofascial;
- Analgésicos e anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs);
- Antidepressivos tricíclicos ou inibidores da recaptação de serotonina/noradrenalina, úteis em dor crônica;
- Drogas para dor neuropática, como gabapentina ou pregabalina.
- Bloqueios anestésicos e infiltrações:
- Bloqueios facetários, epidurais, foraminais ou sacroilíacos, sob orientação por fluoroscopia;
- Radiofrequência (termocoagulação ou pulsátil) para denervação de facetas articulares.
- Cirúrgico (quando há falha do tratamento conservador ou déficit neurológico) – deve ser indicado com muito cuidado, pois pode não haver melhora significativa.
Indicações comuns:
- Hérnia de disco com radiculopatia refratária ou déficit motor;
- Estenose de canal lombar com claudicação neurogênica;
- Instabilidade vertebral (como na espondilolistese ou degeneração avançada);
- Síndromes dolorosas facetárias ou discogênicas refratárias, com correlação clínico-radiológica clara.
Técnicas utilizadas:
- Microdiscectomia: para remoção de fragmentos herniados;
- Laminectomia/descompressão neural: para estenoses de canal;
- Artrodese lombar (fusões vertebrais):
- Vias posteriores ou anteriores, dependendo do caso;
- Utilização de parafusos pediculares, cages intersomáticos, enxertos ósseos e sistemas de fixação;
- Cirurgias via endoscópica: quando bem indicadas, oferecem melhora e recuperação mais rápida — mas reforçando, somente quando bem indicadas.
Aspectos multidisciplinares
A dor lombar crônica deve ser tratada de forma multidisciplinar, incluindo:
A dor lombar crônica é uma das principais causas de incapacidade no mundo, impactando a qualidade de vida, o sono, o humor e a produtividade. Identificar e tratar precocemente é essencial para evitar agravamentos e promover bem-estar físico e emocional.