Definição
As metástases espinhais são lesões secundárias decorrentes da disseminação hematogênica de neoplasias malignas primárias para a coluna vertebral. Constituem a manifestação mais comum de doença neoplásica esquelética, sendo encontradas em até 70% dos pacientes com câncer avançado, embora nem todos apresentem sintomas.
Epidemiologia
- Representam cerca de 95% dos tumores malignos da coluna (os primários são raros).
- Locais mais acometidos:
- Coluna torácica (60-70%)
- Coluna lombar (20-30%)
- Coluna cervical (10%)
- A metástase pode envolver:
- Corpo vertebral (mais comum)
- Elementos posteriores
- Canal vertebral (compressão medular ou radicular)
- Epidura (compressão extramedular)
Principais tumores primários que metastatizam para a coluna
- Mama
- Próstata
- Pulmão
- Rim (carcinoma de células claras)
- Tireoide
- Mieloma múltiplo e linfoma (também frequentes)
Fisiopatologia
A disseminação ocorre principalmente por via hematogênica, através do plexo venoso de Batson, que conecta os sistemas venosos torácico, abdominal e pélvico diretamente às veias vertebrais, sem válvulas, facilitando o fluxo retrógrado de células tumorais.
Quadro Clínico
Os sintomas dependem da localização e extensão da lesão:
- Dor (sintoma mais precoce e frequente):
- Mecânica (instabilidade) ou nociceptiva (infiltração óssea).
- Pode preceder déficits neurológicos em semanas ou meses.
- Déficits neurológicos:
- Compressão medular ou radicular: fraqueza, parestesias, nível sensitivo, paraparesia, incontinência.
- Síndrome da medula, síndrome da cauda equina ou síndrome radicular.
- Instabilidade vertebral:
- Colapso vertebral, deformidades angulares, dor exacerbada com movimento.
Diagnóstico
- Ressonância magnética (RM): exame padrão-ouro. Avalia partes moles, medula e extensão da lesão.
- Tomografia computadorizada (TC): útil para planejamento cirúrgico, avaliação óssea e fraturas.
- Cintilografia óssea, PET-CT: para estadiamento sistêmico.
- Biópsia percutânea: recomendada em lesões sem diagnóstico histológico prévio.
Classificação e Escore
- ESCC (Epidural Spinal Cord Compression scale): avalia grau de compressão medular.
- SINS (Spinal Instability Neoplastic Score):
- Escore clínico-radiológico para avaliar estabilidade da coluna metastática.
- Pontua localização, dor, tipo de lesão óssea, alinhamento, colapso vertebral e envolvimento posterior.
- Classificação:
- 0–6: estável
- 7–12: potencialmente instável
- 13–18: instável (indicação cirúrgica)
Tratamento
O tratamento deve ser individualizado e multidisciplinar, considerando a expectativa de vida, status funcional, tipo de tumor e grau de compressão ou instabilidade.
- Cirurgia:
- Indicações:
- Instabilidade mecânica (SINS elevado)
- Compressão medular progressiva
- Fraturas patológicas com deformidade
- Técnicas:
- Descompressão cirúrgica (laminectomia, corpectomia)
- Estabilização com instrumentação
- Cirurgia minimamente invasiva em casos selecionados
- Radioterapia:
- Modalidade adjuvante ou paliativa.
- Técnicas:
- Convencional
- Radiocirurgia espinhal: alta precisão, especialmente útil para lesões oligometastáticas ou tumores radioresistentes (rim, melanoma)
- Terapia sistêmica:
- Quimioterapia, hormonoterapia, terapia-alvo ou imunoterapia, conforme o tumor primário.
- Importante no controle da doença de base.
- Cementoplastia (vertebroplastia / cifoplastia):
- Indicação: dor refratária por colapso vertebral, sem compressão neurológica significativa.
- Procedimento minimamente invasivo com cimento acrílico (PMMA).
Prognóstico
- Variável, depende do tipo de tumor primário, carga metastática e resposta ao tratamento.
- Tumores com melhor prognóstico para cirurgia:
- Mama, próstata, tireoide, rim
- Tumores agressivos (pulmão, melanoma, GI) têm sobrevida mais curta.
- Escalas como Tokuhashi e Tomita ajudam a estimar sobrevida e guiar a indicação cirúrgica.
Considerações Finais
As metástases espinhais representam uma complicação comum e potencialmente debilitante de doenças oncológicas avançadas. A abordagem deve ser rápida, integrada e personalizada, buscando aliviar a dor, preservar a função neurológica e manter a estabilidade da coluna. O papel do neurocirurgião é crucial, especialmente em casos com instabilidade e compressão medular.